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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Internet das Coisas: dos celulares à robótica?

Com ou sem motoristas, as frotas privadas estão prontas para emergir como elos de rede da Internet das Coisas
Por Mary Catherine O'Connor - Fonte: RFID Journal Brasil
O prestador de serviços de transporte Uber anunciou recentemente seus planos de abrir o Uber Advanced Technologies Center, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, unindo forças com a Carnegie Mellon University (CMU). De acordo com a Uber, o trabalho no centro terá foco em mapeamento, segurança de veículo e transporte autônomo. A National Robotics Engineering Center (NREC), uma unidade de operação dentro do Robotics Institute (RI), da CMU, também integrará a parceria.
A notícia gerou burburinho em torno da ideia de que algum dia a Uber poderia trocar sua frota com motoristas por veículos sem condutor, capazes de ser conduzidos por meio de seus smartphones. As notícias do centro de tecnologia também chamaram as atenções, porque o Google, um dos principais investidores da Uber, também está investindo em carros autônomos.
Mas enquanto o carro autônomo é apenas um elemento interessante do sistema de transportes futuro, outras peças do quebra-cabeças das cidades inteligentes já estão em vigor. Uma dessas peças, que é completamente dependente de veículos, é a rede Wi-Fi desenvolvido pela Veniam, empresa com sede em Mountain View, na Califórnia, mas com raízes portuguesas [Mountain View é a cidade onde está sediado o Google].
Em 2005, João Barros, CEO da Veniam, e Susana Sargento, dois dos quatro fundadores da empresa, começaram a plantar as sementes da empresa na cidade portuguesa do Porto, onde mais de 600 veículos – incluindo mais de 400 ônibus, 150 táxis e uma frota de caminhões de coleta de lixo – agora levam o roteador Veniam Netrider Wi-Fi e servem como elos móveis de uma rede municipal de Wi-Fi. Todos os dias, 95 mil passageiros aproveitam o acesso Wi-Fi ao utilizar o sistema de transporte público da cidade e podem até mesmo fazer conexões intensivas sem muita preocupação com a perda de conectividade, explicou Barros para mim recentemente, devido aos algoritmos que a Veniam utiliza para gerenciar a rede. A própria rede é composta não só por pontos de acesso Netrider instalados em veículos, mas também pontos de acesso de posição fixa que fazem parte da infraestrutura de telecomunicações da cidade.
Assim funciona, nas palavras dele:
"No rádio, está tudo normalizado. Usamos 802.11P e redes celulares 3G e 4G, quando não temos uma conexão com a rede do veículo. Mas estas normas só definem como você está estabelecendo um link ponto-a-ponto. Nossa propriedade intelectual resolve problemas de rede fundamentais que aparecem quando seus nós não são estáticos e você precisa de gerenciamento de conexão. Eu me conecto a esse ponto de acesso? Ou aquele ponto de acesso ou aquele veículo, com base em quão rápido eu estou me movendo?
"A segunda peça é o controle de mobilidade. Como passageiro, você entra no ônibus e se conecta no Wi-Fi. Quando o ônibus se move e você está mudando para diferentes pontos de acesso, o que acontece se está assistindo a um vídeo ou fazendo uma chamada Skype? Nós fazemos todas as transferências entre esses elos para que você possa continuar a fazer essas coisas.
"O dispositivo Netrider é mais que um roteador. Ele fala com todos esses dispositivos de comunicação e é um elo ativo na rede. E também gerencia dados com muito cuidado. A outra coisa que o nosso IP determina é se os dados precisam ser enviados agora ou podem ser armazenados em cachê. Os ônibus têm de enviar a sua posição a cada poucos segundos [para suporte em tempo real de aplicativos de rastreamento de ônibus], mas também precisamos ler a velocidade do veículo, diagnóstico de bordo e todos esses dados podem ser armazenados localmente. Ao invés de enviá-los via rede celular, que é cara, ele espera até o ônibus estar ao alcance de um ponto de acesso Wi-Fi".
A utilidade de ter uma rede versátil, que muda de forma como a Veniam vai além de capacitar os passageiros a assistir a vídeos em seu caminho do trabalho para casa. Porque cada ônibus não precisa depender do uso de um link de celular caro para transmitir dados, já que pode dimensionar os usos do Netrider. Todos os sistemas distintos dentro de um ônibus – scanners de bilhetes, volante do motorista, sistema de anúncio público e câmeras de vigilância para a segurança – geralmente são sistemas independentes, mas ligando-os juntos pelo Netrider, a agência de trânsito do Porto pode programá-los a partir de um escritório e fazer alterações sem fio em uma frota de ônibus.
O sistema de trânsito do Porto utiliza a rede Veniam para rastrear a localização de cada ônibus a cada poucos segundos. Aplicativos que utilizam esses dados de localização e softwares de mapeamento podem avisar aos passageiros sobre atrasos inesperados – pneu furado de um ônibus ou um acidente ou excesso de tráfego – direcionando-os para diferentes opções de ônibus ou trens quando o app detecta estes atrasos, garantindo maior eficiência.
A Veniam também executa um programa piloto no Porto, onde a rede está sendo aproveitada para melhorar a coleta de lixo. Um módulo de sensores e comunicação montado dentro de cada lata de lixo controla a taxa de preenchimento. Quando a caixa precisa ser esvaziada, o módulo envia um alerta para a agência por uma conexão Wi-Fi para o ponto de acesso mais próximo, que pode ser um caminhão de coleta passando, um ônibus, um táxi ou qualquer outro veículo que transporte com um roteador Netrider, ou até um ponto de acesso de posição fixa da rede Veniam. Uma série de empresas, tais como BigBelly ou Enevo, já estão usando sensores e redes sem fio para controlar pontos de reciclagem e latas de lixo. Com este piloto, a Veniam espera mostrar que uma única rede pode executar várias funções em toda uma cidade. "A cidade do Porto estima que vai economizar 25% dos seus custos para coleta de resíduos, quando implantar isso em grande escala", disse Barros.
Dois dos outros co-fundadores da Veniam são Robin Chase, ex-executivo-chefe da Zipcar, e Roy Russell, fundador e diretor de tecnologia da Veniam. Então não é nenhuma surpresa que a Veniam também ajuste suas vistas sobre a criação de grandes redes Wi-Fi, transformando frotas privadas em elos de sua rede. Será que isso significa que veremos uma rede Veniam emergir em, digamos, Zipcars de São Francisco? Ou será que a Uber ou motoristas da Lyft irão criar hotspots Veniam móveis?
Barros não divulgou quaisquer cidades específicas ou prestadores de serviços de partilha de carros que a Veniam esteja em conversações, mas disse para esperar um anúncio até o final do trimestre. Um palpite justo é que Veniam ou outras redes Wi-Fi acabarão por empregar carros sem motorista, que vão surgir através da Uber, Google ou alguma outra empresa, como elos de rede.
Barros resume sua missão como fornecedor de redes para veículo-a-veículo ou veículo-a-infraestrutura. "É a interação com o mundo físico, onde a Internet serve como maneira de mover as pessoas e as coisas".
Mary Catherine O'Connor é editora do Internet of Things Journal e ex-repórter do RFID Journal.

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