29 de novembro de 2016 - Há mais de cinco anos, venho editando o RFID Journal Brasil. Isto significa produzir matérias no Brasil, dar palestras sobre identificação por radiofrequência (RFID) em eventos do RFID Journal, dentro e fora do Brasil, e em congressos de outras publicações, empresas e associações de classe, representar os interesses da empresa no país e ainda selecionar e traduzir conteúdos produzidos pelo site do RFID Journal em inglês. Então, desde novembro de 2011, tenho acompanhado a angústia de Mark Roberti, fundador e editor do RFID Journal, quando empresas usuárias de RFID empacam a divulgação de seus cases ou testes da tecnologia, para simplesmente manter segredo.
Adotar RFID traz mesmo grandes diferenciais competitivos para os negócios, com certeza – também sou testemunha disto em empresas do Brasil e do exterior. Tenho visto ao longo dos anos benefícios que culminam com o aumento de lucros, graças à elevação dos índices de eficiência e receitas, além de relevantes economias de custos e de melhorias significativas na satisfação dos clientes, que passam inclusive a se beneficiar de novas experiências de consumo. Mas manter isto sob sigilo está longe de ser uma estratégia válida ou uma vantagem lógica, como explicarei a seguir.
Nestes cinco anos, um pouco da angústia de Mark foi transferido para mim. Afinal, muitas empresas brasileiras fazem a mesma questão de esconder seus projetos com RFID. É como se quisessem esconder o ouro, o que até faz um pouco parte do comportamento ancestral dos seres humanos. Aliás, a frase "esconder o ouro" ilustra muito bem o tal comportamento, porque parece que as empresas encontraram uma mina virgem de metais preciosos e querem mantê-la oculta, custe o que custar, para explorarem sozinhas.
É como se não falar para ninguém sobre o uso bem sucedido de RFID pudesse impedir que outras empresas – especialmente as concorrentes – se beneficiassem da mesma tecnologia e com grandes ganhos. O pensamento dominante, nestes casos, revela uma falsa certeza de que, se ninguém souber usar RFID, a empresa continuará sozinha colhendo os resultados positivos da tecnologia – todo o ouro – por toda a eternidade.
O primeiro ponto a se considerar – e que grandes empresas de dentro e de fora do Brasil já levam em conta – se refere ao custo das tags (etiquetas eletrônicas com chips de RFID). Quanto mais empresas usarem RFID, o preço unitário cairá vertiginosamente.
Raciocínio simples, não é? Se apenas poucas milhares de etiquetas RFID forem vendidas no decorrer de um ano, seu preço por unidade será tão alto que o valor da implantação poderá se tornar proibitivo para várias empresas adotarem a tecnologia. Em contrapartida, quando centenas de bilhões de tags passarem a ser comercializadas, seu custo unitário cairá sensivelmente. E quem ganhará com isto? As empresas usuárias de RFID.
Com isso, faz sentido também ampliar o mercado para novos players poderem manter negócios sustentáveis, criando e desenvolvendo soluções com RFID. Se todos os mercados passarem a ter soluções próprias de RFID, a evolução beneficiará naturalmente outras verticais de mercado, favorecendo a implantação e a inovação.
Por isso, divulgar o uso da RFID passou a fazer parte da estratégia de adoção da tecnologia de grandes corporações multinacionais como a Airbus, Macy’s, Petrobras e Vale. Por maiores e bem sucedidas que possam ser, todas as empresas tendem a se beneficiar das soluções desenvolvidas no mercado, inclusive por companhias que não são exatamente do seu ramo de atividade ou, muito menos, de seu ecossistema. A capacidade de evoluir com os erros e acertos dos outros cresce quando as experiências são compartilhadas.
Além disso, compartilhar informações sobre a implantação da tecnologia demonstra especial maturidade com o uso da RFID, o que por si já é uma outra vantagem. Ou seja, saber falar sobre o seu projeto e saber apresentá-lo ao público em geral pode ser mais um ganho entre os benefícios da utilização bem-sucedida nos negócios. Afinal, pioneirismo e inovação têm grande valor nos dias de hoje. E este valor cresce significativamente quando a inovação envolve novas tecnologias de informação e comunicação.